Para os Estranhos e Desgarrados
Esse é um poema
para todos os desgarrados,
para todos os estranhos,
já tão acostumados
com a crueldade do rebanho.
O rebanho te mostra bem cedo
o que é sentir medo (constantemente).
As garotas não te querem,
te ignoram gratuitamente.
Os garotos também não entendem,
e garotos destroem aquilo que não entendem.
Você é satirizado, você é crucificado
junto com uns outros poucos cristos.
Enquanto o rebanho, a massa, brinda ao sol,
os desgarrados se escondem nos cantos,
formam guetos, a escuridão se torna seu manto,
assim ninguém te vê, ninguém te acusa,
ninguém te abusa.
Quando adulto, você bebe, você se isola,
precisa fingir todos os dias que é um deles,
mas você se tornou forte, não mais chora.
Anos em lugares vazios e afastados
fazem dos desgarrados
seres resilientes e indiferentes.
Já é tão natural não se encaixar,
que um reconhece o outro apenas pelo olhar.
Você sabe que não é especial,
você sabe que não é importante,
isso está no seu semblante
e isso não te assusta.
Você suporta toda estupidez do mundo,
e sabe que terá de seguir suportando,
afinal, você sempre suportou.
Não sei como terminar esse poema,
mas assim como nós, é melhor que termine quieto
nenhum outro jeito me parece tão certo...
V. R. C.