Hecatombe - Gil Bertho Lopes
Rajadas fortes enchiam os céus de um burburinho sibilante
Nem um luzeiro de estrela trespassava aquele negrume denso
Uma luz amarela e mortiça temia e tremia
Um mar de nuvens cobria o céu
Um céu encoberto de panos alvos
Como uma vitrine de neve enguirlando tudo
- Não é neve, ó, Deus!
É fumaça de bombardeio
Em mim a permanente e angustiosa perplexidade
Em mim o ar de enfado envolto à fumaça inebriante
Sob o peso de pressões políticas
Econômicas
Existenciais
A decomposição social e moral de nossa civilização
As injunções a que está exposto o espírito humano
E em meio aos humanos gritos
De magros homens desnutridos
Ainda ressoam os noturnos roncos gordos
Dos gordos canhões.