Desesperança

Todo santo dia é assim:

Acordar antes do Sol,

Limpar a erva que cresce

Entre a lavoura ressequida,

E esperar pela chuva, que não vem.

Seus amigos e irmãos partiram

Em busca de outros sóis;

Até a velha companheira,

Parceira de tantas luas,

Cansou-se de ver a terra nua

E bateu em longa retirada;

Morreu à beira de uma estrada

Esquecida em um canto poeirento

Sua carne pouca serviu de alimento

Aos animais daquela caatinga.

O tempo plantou-lhe calos,

E roçou a sua rala cabeleira

Ele carrega em si este estigma.

É duro plantar e não colher,

Regar a terra com o leite da vida

O sumo lacrimal da sua desgraça.

Os filhos que plantou não vingaram,

Morreu de sede o seu gado

E agora, enquanto puxa o seu arado

É ele mesmo o boi, que

Abre a terra e põe semente,

Desdenha sobre a própria mágoa

Que com essa frágua, já não pode

Sonhar com o dia em que, sortudo,

Volte ao pó que há tempos o cerca

E seja da sua terra, enfim, o adubo.

Geraldo Meireles
Enviado por Geraldo Meireles em 27/04/2007
Reeditado em 22/05/2013
Código do texto: T466022
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