O MENDIGO
Quem és tu, ilustre desconhecido?
se assenta na calçada,
De terno rasgado, olhar moído;
Um linho sujo, desmazelado, fedido...
Quem és tu, andarilho?
Da mão enrugada,
Estendida ao vento,
Esperando trocados
Dormindo ao relento...
Quem és tu meu querido sonhador?
De traços expressivos,
Barba há tempos não tirada.
O que fazes ai?
De longe ouço múrmuros teus:
"Me dêem uma esmola pelo amor de Deus!"
Mesmo assim ainda cantas,
Tocando um violão desafinado,
Uma corda quebrada,
Num esforço que vem d'alma
Tão humilde senta-se na sarjeta
Com voracidade come seu almoço,
Com sorte ganhado, sobejado...
Pois amanhã, Deus dará.
Onde está tua família?
Sim! porque em algum lugar,
Tua velha mãe chora,
Te sábio pai não se consola e,
Teus filhos dormem desiludidos
Por que foste embora.
O que te levou às ruas?
Foi um amor perdido?
Foi um vício maldito?
Ou uma doença incurável, incontrolável?
Ou seria a reles incompetência de nossos governantes insensatos?
Da politicagem desenfreada;
Quando será, meu Deus, que eles perceberão que o ser humano é o verdadeiro tesouro e a única coisa que realmente importa.