Corações Infelizes - Vidros enfeitiçados
As janelas reais eram de vidraças importadas
Por onde se via o mundo correndo lá fora
Esbanjando alegria
De casas esquecidas pelas falsas homenagens
E vinhos trazidos do outro lado do mundo
(Até uma leve ilusão de Marte)
Um par de olhos exaustos, abrindo as cortinas
Percorrem as gramas lá embaixo
Em que nunca se pode brincar.
Os pés tão finos de luxo
Não ousaram sentir o barro
E as gotas geladas da chuva.
Mas por toda a vida
Mergulhou na solidão do poder
E dolorida ausência de paz.
Ao longe dos holofotes
Caminha outro coração
Que maravilhado avista o castelo
E sonha com os vidros de brilhantes
E suas comidas gordurosas.
Não sabe, no entanto,
Que corações infelizes não se curam com ouro
E muito menos com vidros enfeitiçados...