BICHO DO MATO.



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Vó me chama, eu ouço...
Quero voltar pra esse dentro,
quero voltar pro teu mundo,
quero meu, teu colo sereno.
O mundo é tão feio daqui, é o demo!,
o mundo da cidade grande é grande no apedreja.
Eu com essa cara de fraca, com esse jeito de chute,
com essa roupa de chita, esses pés de chão sem sossego,
minha alma é tão a nordeste de tudo.
Eu que só fiz chorar desde que me vi sentada nessa fabricação de gente,
já inundei dois sertões, dois rios, dois lagos e um caminho.
E até aprendi essa língua, encolhi  meu sotaque,
vesti fantasia de minha mais alta miséria!
Mas não sou ninguém desses,  deles sou o só do invisível,
o pó da mesa,  o pó do miolo que cai, o que se varre.
Sem luz nem vela,  agarrei-me ao pé de minha santa,
pedi tanto a São Benedito, fiz tanta prece,
tanta promessa de juntar meu pé de meia.
Mas a cidade grande te sacode até moer,
enfraquece os ossos, te bate na cara e violenta: “Cai, peste!”
É um sem saída, é um sei, não sei, não vejo por onde se abre mais a porta, portinhola,
alçapões, e os desvios.
Parece até que perdi a hora de voltar, minha mãe.
Já nem sei mais se de onde sou sei onde fico. 
Sou Bicho do Mato. Do Mato! O mato que me come e dorme.
Eu assobio de medo, mas vocifero tinhosa, esse brocado é de destino.

Patrícia Porto
Patricia_Porto
Enviado por Patricia_Porto em 13/12/2013
Reeditado em 13/12/2013
Código do texto: T4610307
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