ENXURRADA

ENXURRADA

Ela descia a rua desgovernada

Meio louca, alucinada

Um pouco se arrastando

Como serpente enroscada

Crescendo voluptuosamente

Em gestos frenéticos

Abraços grotescos fatais

Envolveu tudo ao redor

Foi se abrindo em volume

Se esparramando indecente

Entrando na casa de todos

Matando a gente

Surpresa irreverente

Imparcial sem culpado

Ou puro ou inocente

Ela tudo arrastava

Um tímido fio de água

Para acabar na fatal

Enxurrada.

Varreu as estrelas

Do manto do céu

Ao ver novamente

Sua mortal palidez

Parecia uma colcha

Esburacada fazendo

Chuveiro na sua jornada

Revolta e desenfreada

Acabou com a cidade

Tudo virou calamidade

E ainda pela noite agitada

Seguiu a fatal enxurrada.

Montes de lixo, papéis.

Pelas ruas esburacadas

Das outrora velhas estradas

Agora bolsas inchadas

De água podre e misturada

Produto da fatal enxurrada.

E passam verões, estações.

Tudo continua igual

Ninguém faz nada

E segue a fatal enxurrada.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 12/12/2013
Código do texto: T4608425
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