ENXURRADA
ENXURRADA
Ela descia a rua desgovernada
Meio louca, alucinada
Um pouco se arrastando
Como serpente enroscada
Crescendo voluptuosamente
Em gestos frenéticos
Abraços grotescos fatais
Envolveu tudo ao redor
Foi se abrindo em volume
Se esparramando indecente
Entrando na casa de todos
Matando a gente
Surpresa irreverente
Imparcial sem culpado
Ou puro ou inocente
Ela tudo arrastava
Um tímido fio de água
Para acabar na fatal
Enxurrada.
Varreu as estrelas
Do manto do céu
Ao ver novamente
Sua mortal palidez
Parecia uma colcha
Esburacada fazendo
Chuveiro na sua jornada
Revolta e desenfreada
Acabou com a cidade
Tudo virou calamidade
E ainda pela noite agitada
Seguiu a fatal enxurrada.
Montes de lixo, papéis.
Pelas ruas esburacadas
Das outrora velhas estradas
Agora bolsas inchadas
De água podre e misturada
Produto da fatal enxurrada.
E passam verões, estações.
Tudo continua igual
Ninguém faz nada
E segue a fatal enxurrada.