Café
Desliguei minha consciência por dez minutos
pra carregar um trauma por toda a vida.
Pra tentar entender o cotidiano de um macaco,
me passei por um macaco,
e não entendi ainda como conseguem
manter a pose de macaco a vida toda.
Subi na crista da decadência
e dei oitenta cambalhotas,
coloquei uma hidroxila
em cada carbono do meu corpo
até todos os -óis possíveis
escorrerem pelo nariz, boca e ouvidos.
Permiti que meus hormônios
manipulassem cada músculo meu,
e cada músculo tocou em outros
que nem me lembro muito bem,
nem sei de quem eram também.
E aquela neblina que preenchia meus pulmões,
e clamava ao meu sangue para ter mais,
não teve, me lembro bem.
No final das contas,
desligar minha capacidade de ser humano
e carregar uma mancha de café na minha camisa
rendeu um bom poema.