Quimérico

Acordei de manhã

com uma espingarda na minha testa,

crente que morreria,

não morri.

Ninguém morreu,

afinal de contas a arma é velha,

tem uns dez mil anos

e já fez muito estrago.

Quem a portava

era a matéria do Broeucq,

por algum idiota que a deu vida.

Parece engraçado se não tendesse ao trágico,

a espingarda nunca matou ninguém,

diretamente, não.

(Ela não existe)

Mas estava em minha testa,

estava na testa, na garganta, no peito

de cada homem dessa terra,

e mandou cada homem esquartejar

a carne de cada homem

que desviou das balas da espingarda,

(espingarda que não existe)

Ouse falar isso, que a estátua viva do Jacques

mandará alguém te matar.

(A estátua existe, a vida não)

Seu nome também não existe,

mas consegue amarrar ao tronco

e dar quinhentas chibatadas

apenas apontando sua espingarda.

(apesar de não haver espingarda alguma)

Vai entender.