FRUTOS DO PRECONCEITO
Aonde andas e onde estás negro?
O que buscas? Aonde vais?
Teu corpo expõe as marcas
Do azorrague e muito mais.
Vives jogado e enxovalhado na favela.
Se morto, não tens velório nem vela.
Tantas vezes teu abrigo é tua calçada,
Pois não te oferecem asilo ou morada.
Em ferros vieste da terra distante
Refém do cativeiro, bicho no tumbeiro
Um verdadeiro túmulo, navio negreiro,
Desterrado à realidade aviltante.
Tornaram-te chaga, nódoa, escravo
E lá no preconceito estigmatizado.
Nas tuas vontades sempre massacrado
E nos teus direitos a cada dia renegado.
Não és o mocinho galã da novela.
Em papéis menores figuras na tela.
És quase esmoleiro lá na esquina
Uma vida dura e que pouco te anima.
Similar a um bicho tu não tens descanso
Por ti se cultiva a cultura do ranço.
Tua vida sofrida é muito cansada,
De prêmio só tens fatigável jornada.
Da nossa mãe África vieste gemendo
Na terra Brasil estás padecendo.
Na universidade para ti só tem cota
Lá quase ninguém te percebe ou nota.
De tua palavra querem desonrada
Estás a insistir com mão espalmada.
Vives a implorar e a pedir por favor
Ignoram-te, maltratam, olhando tua cor.
Tuas costas feridas pelo látego açoitadas
Tua livre consciência não está calcinada.
Por ti se poderia erguer santuário
E o que te restam? uma cruz e um calvário.
Exsurge-te irmão! Levanta-te então.
Espanta solidão e afugenta a servidão.
Quebra o grilhão da opressão.
Abre toda cadeia, e demuda prisão.
Homenagem ao grande líder Madiba, Tata, Mandela; arrebatado para outro lugar, mas que continua com a gente a nos inspirar. Também para Abdias Nascimento, Ganga Zumba, Zumbi; ao Pai Véio. A Vicente de Paulo, negro que lutou por estas bandas do Agreste de Pernambuco, esquecido pelos livros de história.Também para Zezinhos, Manezinhos, Menininhas de inúmeros Terreiros, Marias e Josefas, que lutaram e continuam a luta o tempo inteiro... Apesar de tanto sofrimento ainda...