E AGORA JOSÉ? (Resposta a Carlos Drummond de Andrade)

E agora José?

Tu me perguntaste

Eu não sei! Respondo a você tristemente

Eu não sei o que fazer

Foram-se meus dias alegres

Minhas festas na beira do riacho

Que agora secou

Não posso mais te dar uma flor

Porque elas secaram

Meu destino é incerto

Minha vida sem rumo ficou

O trenzinho que passava

Perto da minha casa

Já não apita mais

Vejo os dormentes abandonados

E o mato quase o encobrem

Nossas cidades estão muito mudadas

É o progresso que chegou aqui

Senhor Carlos Drummond

Nossas cidades mudaram muito

Há tanto engarrafamento, tanta poluição

Até dormir de janelas abertas não podemos mais

Há assaltos, gente drogada, leite adulterado

Tentam vender até comida estragada

Não há mais leiteiros na porta,

Nem padeiro de bicicleta, gritando: Olha o pão, olha o pão!

E o Senhor seu Carlos ainda pergunta:

E agora José? E agora José?

Eu não sei para onde estamos indo

Para onde vai o dinheiro de tanta roubalheira

Tantos desvios de verba

Seria isto o que o progresso

Tinha a nos oferecer?

Já não sei, Senhor Carlos Drummond de Andrade

Sou apenas mais um José desiludido

Que encantado por seus versos

Acabou se tornando um poeta

Apenas isto! Apenas isto...

_________________________________

07.12.13

MÁRIO FEIJÓ
Enviado por MÁRIO FEIJÓ em 07/12/2013
Código do texto: T4602604
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.