Curumim
nos olhos o brilho fosco da crueldade vivida na rua
uma mancha na pele identifica sua idoneidade rara
nos pés um borrão diz de onde veio à idade ingênua
uma ideia na cabeça leva bom tempo pra ficar clara
e nasce mais esse curumim na pátria de tupi
tupã clama pela vítima esquecida nessa nação
e mais uma noite no frio da praça com a jaci
revela coaraci no planalto central corrupção
nas mãos as marcas dos dias na senda da comunidade
agora no peito uma maçã podre em vez de um coração
nas pernas o rigor é imposto pela indiferença da cidade
agora no feito uma manhã sofre a perda de um cidadão
e cresce mais esse curumim na pátria de tupi
tupã clama pela vítima esquecida nessa nação
e mais uma noite no frio da praça com a jaci
revela coaraci no planalto central corrupção
nos braços o filho que nunca teve chance ao sair à lua
numa rampa de concreto sobe a esperança de ibirapitá
nos dedos a falta do lápis diminui a expectativa mútua
numa chapada a arquitetura sacrifica a urbe tupinambá
De
Marcondes Schifter
Poeta