Lição das ruas
Pelas ruas vou andando de roupa toda engomada
Noite estrelada, enluarada
Eu interiorizado em minhas questões pessoais
Na verdade pequenos problemas
Criações do ego e nada mais
De repente vejo o clarão da lua
Focar no canto de fora de um bar
Uma alma seminua
Deitado em posição fetal
Parecia receber da lua
Uma forma protetora plasmada de um cobertor
A entrelaçar seu corpo com muito amor
Tamanha beleza e candura
Fez de mim naquele momento
A menor das criaturas
Fiquei atônito olhando aquela cena
Fazendo daquele momento, algo útil
Percebi que a vida me dava um sinal
Usar a percepção sensorial
Para retirar-me de meu ego abissal
E igual uma partícula me desdobrar
E adentrar no universo mental das consciências
Para longe de ser um inquiridor
Transformar-me em aluno de toda gente
E me colocar na consciência e no lugar
Daquela alma a vagar
E captar em seus registros ancestrais
Quanta coisa já fez aquele homem
Quanta beleza construiu
Quanta tristeza nutriu
Pois dela se iludiu
Quantos caminhos percorreu
Em quantas aventuras se robusteceu
Teve ele família, trabalho, dinheiro
Pagou contas ao Estado
E pagou caro
Por ser o estado, pai ingrato
Acabou prestando contas ao acaso
Acabou separado da mulher
Que por ele não nutria nem amor e nem paixão
Serva que era do dinheiro, vítima da escravidão
Dos filhos ? Só ouviu, senão !
Não podia ser macho reprodutor
Nem dos caprichos filhais, abastecedor ?
Então não serviria para ser pai e nem cidadão !
Quanta ingratidão
Acabou na rua casado com a solidão
Viver um matrimônio verdadeiro
Feito de concreto e asfalto
Uma morada que ele ouvira
Da época em que tinha casa
Que tinha um dia sido idealizada
Para ser o congresso de toda rapaziada
E o sujeito com sua cidadania de rueiro
E título de errante continua dormindo
O sono dos heróis que um dia
Hão de ser triunfantes
Eu volto do meu estado catatônico
Para o meu eixo constatar
Que nada tenho da vida a reclamar
Mas sim muito a realizar
Em mim ficou apenas a impressão e constatação
Da pequenez perante aquele homem e sua imensidão