RETIRANTE
Semeia a semente, o campônio.
Traz na algibeira um terço benzido
Para espantar seus demônios
Que há muito teve por bendito.
Vislumbra a verde seara alegre
E faz o sinal da cruz bem ligeiro...
Não quer ser simples passageiro
Na nau da vida que ora segue.
Cava a vala rasa da semente
Enlouquecida por gerar frutos
E sua mão semeia incontinente
plantando vida no chão bruto.
Passa a mão grossa pela testa
Mede as horas na esteira do sol,
contemplando o seu arrebol
E se entrieira com o que lhe resta:
_Eita, que esta chuva logo vinga
Bateno seu casco pelo chão
E, por Deus, sendo Deus ainda,
Hei de sová o trigo do nosso pão.
Hei de bem cuidá a minha roça,
Lavourá a minha disgraça,
Vê muié e fios fazeno graça,
Coieno mio de inchê carroça.
Mais a chuva, mardita sina,
S'iscondeu tanto, mais tanto,
Qui a água que vêi de cima
Moiô menos que o meu pranto.
E lá fui eu cuidá da vida
Tocano os passo nôtras lida!