véspera de
Sabia pedir por água
E comida e um cobertor
Para esquentar no frio.
Sabia que a vida era aquilo,
E não podia saber que aquilo não era vida.
Nasceu porque há quem possa
Sustentar as ruas que o recolhem,
Meio às pressas, de má vontade.
Ficou jogado no mundo -
O jornal imundo e furado,
Velhos trapos amarrotados
Que cobriam o chão – e deles fazia sua morada.
Aquilo não era vida.
A esmola vinha com as almas pobres de espírito,
Que mal olhavam em seus olhos
Por medo de ver neles o reflexo do seu vazio.
As calçadas cinzentas se estendiam
Para além das esquinas.
Tinham medo dele,
E ele, fome.
E ele, sede.
À noite, só havia a luz fria dos postes.
Ele, semi-vida.
Sentava-se só com sua sombra.
Não havia pedestres, porque tinham medo -
E ele, fome.