Interrup ção

Pare de ver o pôr-do-sol

Pare com as greves gerais

Trabalhe feito porco

Engula o porto do cais

Não crie cânticos

Não passe por essa porta

Pare de sortear amores

Leia com essa mente torta

Pare com o rivotril,

a explosão antidepressiva.

Pare com as pilhas eletroquímicas

que não carregam sua energia.

Não crie anúncios

Esqueça os jornais

Não sofra aos prantos

Sua dor não caberá nesse mundo

Agora, pare!

Pare já com a luta diária

Dê um gelo no tempo

Pare com o pseudismo,

o movimento cancerígeno,

a indústria dos prazeres

Não enlouqueça!

Seu coração vagabundo está atrofiado

Num paradoxo de sentimento opaco

Não vá dirigir teu carro

De desdobramentos inconstantes

Freie no acostamento

Não respire gás intoxicante

Jogue merda no ventilador!

Você está fechado na sua cela

Pare com a conversa violenta

Estampe suas víceras na mazela

Não veja!

Por favor, não veja o mundo lá fora.

Lá é só faticidade;

A fome e o frio não passam,

E você é todo frescura e permeabilidade.

Deixe as dentaduras múltiplas!

Não beba essa taça

Pare de morrer pela rua

quando anda em descompasso.

Vai, pare!

Pare com os motins!

Mudança na nossa conjuntura?

Não quebre as estruturas,

Não fique com a cara de tacho.

Pare de depilar sua angústia por inteiro

Não grite, é exagero

Não deite de cansaço.

Seu moço, o mundo é fudido.

Impotentemente incompetente.

Vira rotina

o absurdo!

Nada se ensina para um mundo

Retardado em substantivos.

Parado o bipolarismo,

a fotossensibilidade

Fuja da crise!

Vá se esconder na sua vaidade.

Meu sobrenome é caduco

Eu não sei mudá-lo

Veja só as minhas lentes

que não fazem nenhum contato.

Então, parei.

Não sigo caminho algum.

Já fazem 500 anos que

deixou de existir o passado.

Agora pare para pensar

se esse poema não está só cansado.

Lena Martins
Enviado por Lena Martins em 27/10/2013
Código do texto: T4544643
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