Cinco Generais e uma Junta -junta tudo que deu errado
1964/1967
Eu ainda era menino
quando o Castelo era Branco
numa pequena cidade
pouco politizada
e a meninada só queria brincar.
Não apanhei e nem bati
na realidade nem vi
se alguém apanhou ou bateu.
Só sei que cantávamos o hino
no pátio da escola
havia mais civismo
mesmo que não soubéssemos
o realismo da situação.
Repressão, depressão.
O que é isso?
1967/1969
Outro General
e o pau comendo solto
nas grandes cidades
e eu vivendo ainda a liberdade
alheio a todo aquele tumulto
e curioso é que a mesmo hoje
não ouço nenhum relato
de nenhum exilado
ou deportado
para o Haiti ou Nigéria
só países de ponta
mas isso não é da minha conta
e nem eu presenciei
e nem eu participei.
Ainda continuava menino.
31/08 a 30/10 – Junta Militar. Vamos repensar.
1969/1974
Os métodos do Médici
já não foram tão meigos
e até mais cruéis
e nos quartéis, o burburinho
acreditavam ser o caminho
e o comunismo era o bicho papão
pão para todos
e a tão sonhada reforma agrária
que carcerária
não realizou a utopia.
1974/1979
Não havia inimigos
e nem havia ideais
havia pardais voando
e canários cantando
ou tentando cantar.
Nunca tivemos o espírito
patriota
sempre fomos, somos e seremos
perfeitos idiotas
nas mãos dos agiotas
não importando a categoria.
Somos alegria. Não somos razão.
1979/1985
Cavalos no haras
e povo nas ruas.
Governar para passar.
Preparar para devolver.
Antes, durante e depois
quem tinha não cedeu
e quem nada tinha
também não cresceu.
E veio o Colégio Eleitoral
e com a morte do novo Tiradentes
a sarna maranhense assumiu
e a transposição do rio
ainda não saiu.
Quem não cuida do seu próprio Estado
coitado
vai cuidar de quem?
Diretas já
sem um curso intensivo
para aprendermos a votar.
Os inimigos assumiram o poder.
Revanche. Avalanche. Desmoronamento.
Tiro pela culatra
e quem protestou demonstrou
não ser bom administrador.
Toda dor dói
e é por isso
que chama-se dor.
Telhado de vidro
tem medo de pedra
e a pedra corre da marreta
e enquanto o neném tiver a chupeta
duvido que vá querer crescer.
Alguns atentaram, outros morreram
todos erraram, poucos perceberam
mas nunca houve amor
fulgor
patriotismo
houve oportunidade
ou oportunismo.
Situação e oposição
contra si mesmas
lesmas em corrida de lebres
e o poder pelo poder de ter
e não de ser como deveria ter sido
somos todos bandidos
e somos todos mocinhos
e até quem não brigou perdeu
perdemos todos
e ninguém ganhou nada.
O errado não se refaz
pode-se remediar
e tentar aprender com ele
pois quem não aprende
com a sua própria história
apaga sua memória
e se torna um vegetal
sem nenhum nutriente
apenas aquele que enche
mas não nos alimenta
tal e qual o efeito
temporário da placenta.
Ninguém deve alimentar a vingança
e depois da chuva vem a lambança nas ruas
por onde todos trafegam, indo ou vindo
e lindo é o mutirão para ajudar a limpar.