Selvageria

Sinto ferver todo o sangue

se vejo estendido no chão

um homem sem teto e sem pão

e passar por ele o patrão

que “ficou rico por mérito seu”.

Qual seria então, eu pergunto,

o mérito do pobre de berço?

Qual seria sua culpa, no fundo?

A de não ter nascido rico

o azar de não ser herdeiro

a desgraça de não ter terras

e de não explorar ninguém?!

É por isso, só pode!, só isso!

que o pobre não ganha um vintém!

Não é dado ao acaso,

que o sonho de tantos coitados

que vivem na lama jogados

é um dia ser o patrão:

não de si mesmo

mas do próximo!

Essa ideia vendida e comprada

de ter o seu próprio negócio

não se trata de mais nada

além da perpetuação

do sonho da exploração:

deixar de ser o explorado

para ser o explorador.

É da humana natureza?

Que desculpa bem dada!

Jogar a culpa de forma generalizada

enraizando a crença de que

a realidade não pode ser mudada

afinal, “é do homem ser assim

é humano ser ruim”.

Sistema selvagem

prevalece a lei das matas:

é preciso correr sangue no chão

para saciar a fome ao rei

e a quem não nasceu leão:

carcaça, morte e lei.

Aline Rossi
Enviado por Aline Rossi em 08/10/2013
Código do texto: T4516602
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