relato de ana lise

é tarde. sem violência,

primeira parte. inquestionável.

tiros a esmo, etiquetas em branco,

olhos vermelhos, dor lancinante.

luzes apagadas, medo inefável.

cegueira, olho roxo.

quase mundo visigodo.

num átimo, ruas invadidas

por marchas, diversidades,

cartazes e cantares.

até o hino

saiu da lembrança;

virou lambança...

viu-se muito vinagre

pra pouco discernimento.

muitos gritos de alegria,

desde que não se sinta

o sangue escorrendo.

encorajar, afrontar e pensar;

sinônimos de ultraje.

as mentes sonolentas

ainda processam a mensagem.

do que se trata, afinal?

números ou imagens?

reivindicação ou demência

coletiva? um embate.

sem violência. eis o urro

de um povo violentado

em todos os estados.

predominâncias.

moda de passeata,

vitrines quebradas.

bala de borracha

na cara, silêncios

nas casas. tiro na janela,

tiro no pé. periferia

sempre desperta,

vivendo na treva.

dormência, só se for

da dor e da fé.

não pensemos nesse cansaço,

na exaustão da rotina de aço.

na moda de manifestação,

o vermelho foi proibido.

haste, só se for pra fazer sentido.

não caiam na tentação

da tal liberdade de expressão -

pra tudo há medida.

talvez o matte seja liberado

nessa tendência azul de inverno.

e assim emerge nas mentes coloridas

o temor justificado dos insossos,

e de um sono cada vez mais subalterno.

[junho 2013]