NAVALHA

Navalha!

Corta os fios, nesse fio de aço frio.

Nesse descompaço do que tem sido a vida,

Que tem sido esses incovenienes na vida da gente!

Essas adequações na vida de muitos...

Circos a ensaiar mesmos dramas habituais.

Navalhas afiadas moldando caricaturas!

Moldando indiferenças por detrás dessas máscaras...

Cavernas a abafar os ecos estérieis, coro de vozes,

Atonitas, clamando, gritando, gemendo.

Equilibrando-se ,despencando de mesmos trapézios.

Mentes fragilizadas, andando em círculo!

Cálices, cálices, cálices, brotando desses fios de aço.

Que têm mostrado, como tem sido as horas...

Como tem sido a gente, como têm sido os dias...

Como tem sido as noites, tem sido os frios.

Esses invernos que chocalham fora e dentro da alma!

Do que tem sido os ventos, sido os caminhos...

Do que tem sido os campos, tem sido os rios,

Braços secos, abertos abraçando o vazio!

O que têm sido os homens, mesma romaria,

Visão macro, do que tem sido tudo isso.

O que tem sido essas insensívéis lâminas na alma!

Que tem sido, sido os valores,que tem sido a ética?

O que tem sido essas fomes, tatuadas, nas nossas caras,

Tatuadas a ferro e fogo na pele da gente!

Do que tem sido essas cicatrizes vivas,

Essas fotografias,tristes charges dessa realidade.

E que desertos, que abismos, cortam essas navalhas?

O que é disso é realidade, o que disso é equilíbrio!

O que nos interpõe nessa mesma arena.

O que podam, o que serceiam essas facas?

E como ficam, esses cortes na alma da gente.

O que tem sido nas ruas, o que tem sido dos medos,

Equilibrando-se no trapezio dessas mesmas navalhas.

Máscaras perdidas numa mesma multidão!

Que tem sido dos homens à mêrcer, dessas lâminas.

Afiadas, mesmo fio de navalha brutal, insensível.

Que tem sido as dores,que tem sido, que tem sido,

O que tem sido dos choros, que tem sido os mapas,

Dessas fotos do que tem sido o mundo!

O que tem sido a vida, de iguais têm sido,

Do que tem sido, do que tem feito,

Esse fio da navalha!

Albérico Silva