Entre cantar e contar
Cantam todos os dias
as máquinas da fábrica,
o sol na cabeça,
a pedra no sapato,
o suor escorrendo na manga,
o facão cortando a cana,
cantam todos os dias
os instrumentos do proletariado!
Cantam todos os dias
e eu não preciso cantar
a dor de quem é explorado
todos os dias
a cantar e a contar os dias
para receber o ordenado.
Contam todos os dias
os lucros que obtiveram
das máquinas da fábrica
da caminhada suada ao sol
do minério extraído da pedra
da cana vendida às sacas
contam os lucros
todos os dias
e de todos os dias
e não é o proletariado
que cantou noutro dia
quem conta o lucro.
É o proletariado que faz
a máquina cantar,
o facão cortar,
e que sua a tirar
a pedra de seu sapato
mas não é o proletariado
que vê o lucro contado
na sua conta
o proletariado só vê
o dinheiro das contas
que paga
a cantar
todos os dias.