Entre cantar e contar

Cantam todos os dias

as máquinas da fábrica,

o sol na cabeça,

a pedra no sapato,

o suor escorrendo na manga,

o facão cortando a cana,

cantam todos os dias

os instrumentos do proletariado!

Cantam todos os dias

e eu não preciso cantar

a dor de quem é explorado

todos os dias

a cantar e a contar os dias

para receber o ordenado.

Contam todos os dias

os lucros que obtiveram

das máquinas da fábrica

da caminhada suada ao sol

do minério extraído da pedra

da cana vendida às sacas

contam os lucros

todos os dias

e de todos os dias

e não é o proletariado

que cantou noutro dia

quem conta o lucro.

É o proletariado que faz

a máquina cantar,

o facão cortar,

e que sua a tirar

a pedra de seu sapato

mas não é o proletariado

que vê o lucro contado

na sua conta

o proletariado só vê

o dinheiro das contas

que paga

a cantar

todos os dias.

Aline Rossi
Enviado por Aline Rossi em 30/09/2013
Código do texto: T4504231
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.