Ela percebia com facilidade
diferenças e porquês sociais:
Pôr palma e buquê nos pés da santa
era pra todas as crianças
Pôr coroa, não
O mesmo diapasão
seguiam as honrarias maiores
(tirar terço, ladainha;
variar o Padre Nosso; cantar no coro)
Demandava letramento e santidade
E mais
arrematar leilão,
carregar andor no mês de Maria
era para participantes ativos
não é pra doadores
de espórtulas acanhadas
Ser madrinha de crisma, representação, batismo
requeria estabilidade familiar
e notabilidade na comunidade
Quando ela pôde,
por capricho, renegou
quaisquer sinais de privilégio
missais, terço de ouro, véu cinza claro,
assento em banco da frente.
Se hoje ela porta escapulários,
escolhe os coloridos,
Em vez de véu, prefere turbantes
Casou-se de pés descalços
usando um traje extravagante
Gosta de mostrar
que as convenções
tiram o brilho
das boas ações e intenções
Às vezes lhe assombram
pecados do passado
Veniais, capitais e mortais
Aí ela ri e roga aos céus
Agnus dei
Qui tollis peccata mundi
Miserere nobis!
E segue em frente
tentando ser coerente