Ela percebia com facilidade

diferenças e porquês sociais:

Pôr palma e buquê nos pés da santa

era pra todas as crianças

Pôr coroa, não

 

O mesmo diapasão

seguiam as honrarias maiores

(tirar terço, ladainha;
variar o Padre Nosso; cantar no coro)

Demandava letramento e santidade
 

E mais

arrematar leilão,

carregar andor no mês de Maria

era para participantes ativos
não é pra doadores

de espórtulas acanhadas


Ser madrinha de crisma, representação, batismo
requeria estabilidade familiar

e notabilidade na comunidade
 

 

Quando ela pôde,

por capricho, renegou 
quaisquer sinais de privilégio

missais, terço de ouro, véu cinza claro,
assento em banco da frente.

 

 

Se hoje ela porta escapulários,
escolhe os coloridos,

Em vez de véu, prefere turbantes

Casou-se de pés descalços

usando um traje  extravagante

 

Gosta de  mostrar

que as convenções

tiram o brilho

das boas ações e intenções 
 

Às vezes lhe assombram
pecados do passado
Veniais, capitais e mortais

Aí ela ri e roga aos céus
 

Agnus dei
Qui tollis peccata mundi
Miserere
 nobis!

E segue em frente

tentando ser coerente

 

 

Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes)
Enviado por Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes) em 29/09/2013
Reeditado em 24/06/2024
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