Roda viva
Teu corpo ressequido do alimento que te faltou
Teus ossos salientes e suavemente encobertos pela pele que restou
Teus membros abandonados sobre a terra infértil que não foi capaz de te nutrir
Menino cheio de vida que apagou-se lentamente como uma vela que se consumiu pelo fogo
A terra agora vai te acolher e o que era seu fruto volta como seiva
O que era vida volta sem vida para fecundar adianta uma nova vida
Embora infértil a ponto de não produzir teu sustento
A terra ao consumir-te passa a ser capaz de parir
Tua matéria ressequida, dá a terra o que esta não vos deu
A vida como um ciclo instigante e atormentador segue seu rumo
Ela não pára por causa da sua dor
Ela recolhe e reabsorve teus restos e segue em pleno vapor
A vida é cruel?
A vida que te faltou?
Quem te desproveu de vida?
Será que tua única missão foi provocar em mim esta dor?
Mais que a dor de saber da tua dor é a dor de saber-me incapaz de cessar a tua dor.
E como aprendiz da vida, recolho para mim a tua lembrança
De modo a não perder a esperança
E a fé de que nesta jornada
Somos todos famintos
Uns famintos de alimentos
Uns famintos de sonhos
Outros famintos de esperança
E todos famintos de amor!