A morte tem olhos de criança...
Eu vi a morte despencar do céu
em cápsulas fechadas de bomba
de luz, de gás e de todo tipo
de maldade bioquímica.
E cada morte, cada bomba
tinha os olhos de uma criança
carbonizada e abraçada à mãe...
E apesar de a morte ser seca,
apesar de ser pleno fogo,
a morte tinha aqueles olhos
machandos, molhados de choro
o choro de todo civil
que morreu, mas não viu
nem soube o porquê.
A morte não era um diabo,
um bicho-de-sete-cabeças,
nem monstro do outro mundo!
A morte tinha um rosto-monstro
com tantas cabeças quanto é possível ter
mas era um rosto muito humano
tão humano quanto é possível ser.
A morte tinha face de mãe e de pai
e de avô, de avó e dos parentes distantes
e dos vizinhos sem culpa nenhuma
e todos os amigos que
naquele instante
olharam para o céu
e abraçaram a morte
enviada por algum
desconhecido.