A morte tem olhos de criança...

Eu vi a morte despencar do céu

em cápsulas fechadas de bomba

de luz, de gás e de todo tipo

de maldade bioquímica.

E cada morte, cada bomba

tinha os olhos de uma criança

carbonizada e abraçada à mãe...

E apesar de a morte ser seca,

apesar de ser pleno fogo,

a morte tinha aqueles olhos

machandos, molhados de choro

o choro de todo civil

que morreu, mas não viu

nem soube o porquê.

A morte não era um diabo,

um bicho-de-sete-cabeças,

nem monstro do outro mundo!

A morte tinha um rosto-monstro

com tantas cabeças quanto é possível ter

mas era um rosto muito humano

tão humano quanto é possível ser.

A morte tinha face de mãe e de pai

e de avô, de avó e dos parentes distantes

e dos vizinhos sem culpa nenhuma

e todos os amigos que

naquele instante

olharam para o céu

e abraçaram a morte

enviada por algum

desconhecido.

Aline Rossi
Enviado por Aline Rossi em 12/09/2013
Código do texto: T4479285
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