MANIFESTO DOS VINTE

Fui eu a passagem pagar

Já haviam reajustado

Eram a mais vinte centavos

Duas de dez pra completar...

Mas, elas caíram da mão

Ao chão foram se encontrar

Foram se juntando então

Aos pares por todo o lugar...

E lotaram a Rio Branco

Até a Presidente Vargas

Vindas de todos os recantos

E quase não mais tinham vagas...

De outras mãos eu vi caindo

Mais ou menos delas ao chão

Amor do coração sorrindo

Legítimo pela nação...

Tisnam umas com um lodo

Outras brilham como ouro

Todas se juntam ao alto

Pela rampa do planalto...

Com vinte não se compra um pão

Mais de vinte se multiplicando

Vai se mudando falsa noção

De que fome fica esperando...

Mas, vão juntas a estas moedas

Outras nessa manifestação

Duma corrupção manifesta,

À saúde e educação...

Mas, esse manifesto dos vinte

Tem clara e pura intenção

Devolver uma voz ao ouvinte

Há muito retirada de ação...

No silêncio o tempo foi calar

Sob o guante da submissão

Praia, sol, futebol, carnaval

Completaram a alienação...

E agora que a copa é nossa

Olímpiada vem coroar

Surge a medalha da palhoça

Que brilha ao peito popular...

“Brava gente brasileira”

Não precisa ser servil

Nem viver mais numa crise

Nem morrer “pelo Brasil”...

E pelo país nós veremos

Crescer nesta jovem nação

O orgulho em novos termos:

Lisura no ser em ação...

E uma voz vai falando no ar

Que nenhuma moeda faz calar

E agora seu “Mané”,

Porque num sonho em pé...?

Não falar com o rei Pelé?

Pra deixar a nobre coroa

Se juntar então à “ralé”

Retirar o que enodoa...

Dar início a um novo jogo

Pelos campos em todo país

E que dê a vitória ao povo

Apite o juiz final feliz!

Antes que a pira se apague

Como aos pés do Parthenon

E um deserto se instale

Secando toda a nação,

Nem seja aqui qual Atena

Mas, sem o seu Panteão

Sem os deuses, sob a pena

De semideuses pagãos...

Não mais os sãos manifestos

Sim por um pão implorando

Nem um salário modesto

Um a um desempregando...

Então, melhor lutar agora

Por uma melhora real

Pois, a vida não se penhora

Nem a morte é banal...

A vida é que se banaliza

Num maniqueísmo infiltrado

O bem e o mal se mobilizam

Através de Deus e o diabo...

Mas, o mal só existe nos homens

E somente o bem vem de Deus

Que o bem no fim o mal consome

Ao diabo dizemos adeus...

Que tudo isso sirva de lição

E estas moedas sejam sinceras

Circulando por toda a nação

Dê início a uma nova era...

André Luiz Pinheiro