Os pedintes (4)
 
- Novamente eu te pergunto,
Vou voltar ao mesmo assunto,
Quem és tu, oh, meu Orpheu?
Já lhe disse, um professor,
Um livreiro e editor,
 De livros, quem mais sou eu?
Minha mulher, quase à morte,
Pois ela de pouca sorte,
Me pediu que eu doasse,
Para que todos herdassem,
As partes que lhe coubessem...
Foi assim mesmo que fiz,
Como ela sempre quis,
E doei todos os nossos bens...
Casas, salas, apartamentos,
A editora e mais trezentos
Milhões  que tinham em caixa.
Foi então numa viagem,
Que fiz por essas paragens,
Que tudo me aconteceu...
Tinha sido atropelado,
Em seguida foi roubado
Meu dinheiro e documentos...
Então perdi a memória,
Essa é toda a minha estória,
Sem mentiras nem inventos...
- Puxa, quanto azar o teu!
- Os azares não existem,
Seus pensamentos persistem
A acreditar como o velho Orpheu...
Quando rico, não percebia,
A miséria que existia,
Bem junto a mim, ao meu lado...
A minha estória é uma lição,
Contada em primeira mão,
Pra mim, um aprendizado!