A FLOR DO CHARCO

Na estrada ensolarada,

O carro sacode no abafado calor

Alguém acenou na estrada, uma moça

Com seu vestido curto, tão tentador!

Deu me um sorriso treinado,

Não pedia carona,

Debaixo das mesuras

Vendia amor

Entrou no meu carro

Sorri para ela, fui gentil

Disse coisas que nem me lembro

Joguei charme, meio galanteador

Ela era bonita deveras!

Debaixo dos seus olhos negros

Pude ver, muito além da pintura

Laivos de tristeza e alguma dor

Entabulamos um papo ligeiro

Logo tudo se descontraiu,

Ela me contou sua vida,

Falou me coisas íntimas, sem pudor

A conversa pegou um atalho,

Ela me fala da prematura concepção

A nova grande razão da sua vida

Fora um acidente de trabalho!

Seus olhos brilharam, pude ver

Senti que falava a verdade

Havia um brilho de luz, alegria

Naqueles olhos agudos de infelicidade

Adentrou pelos seus planos ...

Disse que sonhava em se casar

E que ainda buscava alguém

Ah seria feliz, sim, custasse o que custar!

Fui reduzindo a marcha...

Até parar num pedaço abandonado

Saquei um dinheiro, dei a ela

Inventei algo na hora, que estava atrasado

Fiz mesmo ar de apressado, acelerei o motor

Mas não pude deixar de notar,

Que sua bolsa pobre de crochê,

Havia um broche do nosso Senhor!

Ela desceu desconcertada sem entender,

Creio que queria me retribuir, dar me amor

Disse que eu era legal, bacana

Disse até que eu era, vejam....um sedutor

Dei-lhe um sorriso envaidecido

Voltei à lentamente á estrada,

Tinha agora a alma confusa

Boiava em mim um sentimento perturbador

Certamente ela era atraente

Eu bem queria ir ter ido mais longe

Não sei porque, algo me freou

Quem sabe a consciência do espírito conservador?

Olhei-a ainda acenando,

esticando um pouco o vestido

eu a tinha por inteira

No espelho retrovisor

Fiquei agoniado, pensava nela

Pensei no broche de Jesus..

Latejava-me o desejo contido

Condoía me sua vida, sua cruz.

Uma lágrima molhou os meus olhos

Nestas horas, melancolia é o que a vida revela

Nem notei que eu a deixara com o meu sorriso

E que partira com a dor que havia nela!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 08/04/2007
Reeditado em 17/05/2014
Código do texto: T442373
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