De alguma janela eu vejo

De alguma janela eu vejo...
Nuvens que flutuam como flocos de sorvete
Pássaros presos aos fios da corrente na parede
Montanhas desejosas de tocar o céu
Uma lixeira cheia de papel.

De alguma janela eu vejo...
O sol despedindo-se do dia
A noite nascendo e trazendo consigo estrelas da alegria,
A lua surgindo com sua tatuagem contundente,
O São Jorge e o cavalo lutando contra a serpente.

De alguma janela eu vejo...
Gente que caminha freneticamente,
Um taxista lustratando o carro lentamente,
Um moço que me olha de repente,
A mãe agredindo um filho inocente.

De alguma janela eu vejo...
Soldados que caminham à paisana,
Namorados se beijando na quitanda,

Brincadeiras de criança, rodas de ciranda.

De alguma janela eu ouço...
O badalar do sino da igreja,
O quebrar dos copos da bandeja,
A galinha irritada cacareja,
Tudo ouço sem que ninguém me veja.

De alguma janela eu sinto...
O perfume suave das roseiras,
O odor que exala da fossa, da torneira,
O sabor de uma pimenta vermelha,
O doce amargo licor que ganhei da cozinheira.

De alguma janela eu percebo
A fumaça saindo da chaminé,
O cheiro forte de chulé,
A senhora lustrando com o pé,
O assoalho de madeira do chalé.

Mas quero mesmo ver, ouvir e sentir.
As pessoas se cumprimentarem
Com um bom dia caloroso.
Olhando um no olho do outro
Sem preconceitos tolos.

Crianças brincarem de esconde-esconde
Pai perdoando o filho rebelde
Adolescente educado que escolhe  esporte
Ao invés de tomar porre.

Jovem de fé e ação
surpreendendo os pais com projetos divinos
Abrindo caminhos
para transformarem suas vidas
e comprometendo-se
com o futuro do nosso planeta.