Canção para as flores

Quando eu era um feto dependente

caminhava com delinquentes que diziam

que as flores tinham tendencias sociopatas.

E eu, mero feto dependente, nunca entendia.

Quando eu era um feto semi independente

caminhava com delinquentes que diziam

que as flores deveriam ser queimadas vivas.

E eu, mero feto semi independente, nunca entendia.

Quando eu me tornei um feto autônomo

caminhava no sentido oposto aos delinquentes que diziam

que as flores deveriam ser exorcizadas.

E eu, mero feto autônomo, nunca entendia.

Comecei a entender que, como feto não desenvolvido

não possuía a posse dos delinquentes possuídos

que diziam que as flores eram más.

E eu, mero feto não desenvolvido

como poderia entender que o que eles haviam vido

tinha sido impregnado pelo não sabido.

E eu, na posição de feto eternamente comprimido

nunca haverei de entender o corrompido

pois nunca me desenvolverei nessa placenta

injetada de previsões imprevistas.