Distraída.
Voa uma pedra por cima de minha cabeça.
Rasga o céu um corisco incandescente.
A queimar em brasa as esperanças
de um inverno tranquilo.
E, em seguida chove.
Chove fino e miúdo.
E, mesmo assim acesos estão os ânimos
Dos que gritam, dos que protestam.
Dos que quebram o que quer que se encontre
pela frente.
A gritaria sinfônica é acompanhada
de acordes de vidros quebrando em sustenido.
Voa agora uma bomba de gás lacrimogênio.
Lágrimas são artificialmente produzidas.
E uma tontura nos enausea como...
se fôssemos tombar bem a beira do abismo.
Não caio no abismo.
Mas o meu sangue pinga junto com a chuva.
E latejam meus pensamentos
Pois a pedra me acertou.
Sou um alvo atingido.
Sou uma cabeça tingida de sangue
E de dor.
Sou uma pessoa absorvida pelo
pandemônio.
E, indefesa volto covardemente
Para buscar abrigo de onde sai.
Entro novamente.
Mas agora sob o manto do pavor.
Acolheram-me.
Limparam-me a ferida.
Esperei a trégua.
que tardou.
O tempo entrou num túnel de torpor.
E, por instantes mágicos,
teletransportei-me até
ao átrio do templo.
E os espinhos e as dores
magicamente cessaram.
E, agonia estancou
junto com o sangue.
Finalmente, reconfortada.
Guiaram-me até o caminho.
E, pelo caminho, percebi
ainda inexata e avexada
Que a fragilidade pode ter sua força.
Meu corpo atônito
se comanda sozinho
por exaustão.
Meus olhos choram
Mas é por conta das palavras
que fogem.
Quero chamá-las
com minha mudez parva.
E, tudo que consigo articular
São gemidos ineptos.
A palavra foi abortada
com uma única pedrada.
A pedra a esmo
que certeira
alcança
a semântica distraída.