Meu país

Meu país são jovens

De Belém a Juiz de Fora,

De Porto Alegre

À Praça Sete

A gritarem:

Fora!

Queremos um país,

Outro, novo

E sem demora!

Meu país é aquele

A erguer um cartaz,

Em meio a tiros,

Cavalos e canhões,

Que pede paz.

Meu país

É uma praça em chamas

Enquanto nos átrios

Mais alvos e brancos

Só há roubalheira

E infâmia –

Homens imundos

Vestidos de santo.

Meu país

São gritos, brados,

Novo canto,

Coro e esperança

De que enfim romperemos

Os grilhões do passado

E jamais voltaremos

A viver como gado.

Meu país é um sonho

Com o qual cubro-me os ombros,

Verde-louro manto

A resistir, nas barricadas,

Às bombas que explodem

Em terrível estrondo.

Meu país é a moça

A oferecer uma flor

A fardas cinzas, escuras

Repletas de silêncio e dor.

Meu país é esta flor,

Rubra de sangue e ardor,

A provar que a luta não é vã

E a irromper do alvor

De uma nova manhã.