Ode ao chefe
I
Na empresa há um ser humano
que eu não considero ser humano
seus atos mais parecem divinos
e seus braços estendem ao infinito
Este é o Chefe de meu espírito
a quem meu corpo esta atrelado
e minha alma, endividada como esta,
presta culto laborioso e corporativo
Quando dizem que o Chefe é Homem
eu custo a acreditar no fato científico
pois suas ações demonstram o contrário
ele parece ter vindo antes e existido depois
O único vicio do Chefe é mandar
mas entendo que isso é necessário
é o único meio da empresa funcionar
todo ser vivo tem de ter uma cabeça
O que sou perante seu poder?
Um micro-organismo com causa
muito embora sem efeito nenhum
longe de alcançar sua potência
Quando ele me chama em particular
os meus ossos estremecem de todo
com meu medo de ter errado em algo
pois ainda erro de vez em quando
Mas ele não... o erro passa longe do chefe
não entendo como um ser humano simples
possa ter chegado a tal privilegiada posição
por isso nunca chegarei a ela um dia!
II
Queria eu ver o chefe chorar
não porque o queira mal (longe disso)
mas porque deste modo
o entenderia como ser humano
Se ele demonstrasse uma fraqueza
e que sua carne dói como a minha
eu seria o mais feliz dos homens
ou pelo menos o mais satisfeito
Um dia haverei de machuca-lo
não porque tenha ódio por ele
mas só para poder vê-lo instável
e angustiado como eu já fiquei
Dessa forma, eu iria entender finalmente
que o chefe é gente como toda gente
somente com o comportamento
obsessivo compulsivo de mandar
Ora essa como se ele tivesse de ir ao divã!
Perceba logo de uma vez Felipe*
o chefe não tem a psique quebrada
não recolhe pedaços de ego como tu
Ele nunca esteve enganado
nem cometeu o ato
socialmente inaceitável do erro
isso quem faz é você!
Agora trabalhe e não reclame
seja parte integrante da Empresa
volte a ser uma engrenagem
(e engrenagens não falam)
Fique casmurro e sue
assim comerá o pão
que se chama salário...
* escrito sob o heterônimo de Felipe Redom