=FAVELA=

FAVELA

( 29.01.1997 )

Favela...

Resto da cidade,

Quadro brasileiro,

Que a janela emoldura...

Porta de fundo, “serviço”,

Jardim pelo avesso,

Onde o samba se configura.

Favela...

Daqui te vejo

Na linha do Sol

Em silhueta escura,

No vai-e-vem das sombras

Sob o vento das alturas.

Favela...

Palmeirais solitários,

Abrigos de sabiás...

Natural esconderijo,

Onde o sonho não tem final...

Favela...

Que resiste,

Que insiste,

Rasteja,

Perdura...

Oposta sepultura

De ângulo diferente,

Foco de “malandro”,

Reduto de “valente”

Onde vantagens, valentias,

Costuram o dia-a-dia

De quem sobreviveu!

Estórias de tantas guerras,

“Batidas”, tocaias,

Tiros a revelia,

Sem notícia, sem valia,

Sem nenhum pudor...

Sem cara, ou testemunha,

Consolo ou amor!

Estórias não contadas,

Ditas a boca pequena:

Da cabrocha faceira,

Que se pôs na dianteira

Da bala, asa certeira,

Impedindo dessa maneira,

Que o amor tombasse em vão!

Favela...

Da Umbanda de Xangô !

Dos deuses ornados em glórias,

Dos negreiros contando estórias,

De guerreiros nagôs!

Favela...

Aculturada:

Retirante da seca braba,

Da sede que não acaba,

De vontade,de querer...

Aqui fazendo lida,

Cruzando sangue e vida,

Entre o TER e o SER !

Favela...

De Maria Cicatriz,

Que teve o rosto marcado

Para não se esquecer

Do amor de Totonho!

Mas que desperta a madrugada,

Suada, orvalhada,

Para ouvir o “happy” triste,

Desencantar o sonho.

Desafiar o medo.

E parir o amor!

Niterói, em 27.06.013

Ronaldo Trigueiros Lima

RONALDO TRIGUEIROS LIMA
Enviado por RONALDO TRIGUEIROS LIMA em 28/06/2013
Reeditado em 29/06/2013
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