UM CELULAR
Ficou o corpo estirado no chão
E na bala a assinatura do remetente
A calçada lavada de sangue bom
E as marcas da fuga do delinquente.
Não há mais como colecionar primaveras
Dentro de toda fera morre uma flor
Acordar deste sonho quem dera?
Visto que a espera foi o inverno da dor.
Estranho o sentido à vida atribuído,
Cedo interrompida por um desejo tão banal.
O valor do que lhe foi subtraído
Reduz a existência à inutilidade afinal.
Onde buscar o incontido alento
Ao coração esfacelado pela atrocidade?
Chora a mãe um triste lamento
Lavam os olhos as lágrimas que desnudam a realidade.