QUASE BRANCO, QUASE PRETO.
Sou também um afrodescendente
A pele branca aparente
Uma alma sem cor reveste.
Retinto meu sangue se africanizou,
Na matriz indígena se retemperou
Numa nova cor que a mesma pele veste.
Na linha do tempo construída
Outra identidade seve surgida
Num emaranhado de culturas.
Ser negro, índio, europeu,
Nenhum destes tipos prevaleceu
Na composição de uma “raça pura”.
Vinca no meu corpo a marca do açoite,
Nos meus ouvidos, o grito lancinante no breu escuro da noite,
Nos meus pés o ritmo febril dos tambores.
Em minhas mãos, a corrente que roubou a liberdade
Na minha boca o leite amargo a garantir a vitalidade
E na senzala dos erros do passado sonho minhas dores.
Desconstruo os estigmas, as imagens,
Que desigualam as diferenças, as roupagens
Com rejeição tão insana.
Toda cor é apenas pigmento
E a pele tão somente um revestimento
De uma única raça humana.