O vento
(Aos meus amigos: Bruno e Dani)
Há dois tipos de sons produzidos pelo vento:
Um é aquele meio que mal assombrado
Que uiva monstruosamente nos sobrados
Abandonados.
O outro vem tão sorrateiro a passos de gato
Que julgamos não ter barulho, mas que tem tato
E formato.
O primeiro costuma ser insensível pra mim
Não me assusta e nem se debruça na janela
Dos meus dias e noites sem fim.
O segundo habita aceso feito uma inesgotável vela
No interior do meu interior como planta de jasmim
Tão bela como pintura de aquarela.
(O barulho do vento é cacofonia,
O silêncio do vento é cognição.)
Não sou como vocês que produzem sinfonias
Desorquestradas feito de risadas desordenadas
Sem respeito, sem sentido nem nada.
Não sou como vocês que se contentam em ouvir o vento
E se satisfazem com o pouco que ele oferece,
Pois esse, meus amigos, arrefece.
Não, não me julgo perfeito, não sou como vocês!
Pois escuto somente o que minha fisiologia permite.
Sou falho! E vocês desconsideram o que entre nós existe.
O silêncio do vento que sopra aqui dentro da mente
Vêm corroendo eolicamente os barrancos da intemperança
E da ignorância que vão se fragmentando a cada momento.
Não debocho de qualquer coisa, não sou um pobre demente,
Pois sou gente, deficiente e da genética tenho uma pobre herança:
Não ouço nem em pouca distância o uivo do vento.
Mas aconselho vocês, meus amigos de poucas sementes,
Deixem florescer aí dentro o vento e o jasmim da lembrança
De que minha imperfeição é pra mim um lamento.
E a risada debochante, vinda de vocês, é ainda mais um tormento.
Escutem o sopro consideravelmente silencioso do vento.