O vento

(Aos meus amigos: Bruno e Dani)

Há dois tipos de sons produzidos pelo vento:

Um é aquele meio que mal assombrado

Que uiva monstruosamente nos sobrados

Abandonados.

O outro vem tão sorrateiro a passos de gato

Que julgamos não ter barulho, mas que tem tato

E formato.

O primeiro costuma ser insensível pra mim

Não me assusta e nem se debruça na janela

Dos meus dias e noites sem fim.

O segundo habita aceso feito uma inesgotável vela

No interior do meu interior como planta de jasmim

Tão bela como pintura de aquarela.

(O barulho do vento é cacofonia,

O silêncio do vento é cognição.)

Não sou como vocês que produzem sinfonias

Desorquestradas feito de risadas desordenadas

Sem respeito, sem sentido nem nada.

Não sou como vocês que se contentam em ouvir o vento

E se satisfazem com o pouco que ele oferece,

Pois esse, meus amigos, arrefece.

Não, não me julgo perfeito, não sou como vocês!

Pois escuto somente o que minha fisiologia permite.

Sou falho! E vocês desconsideram o que entre nós existe.

O silêncio do vento que sopra aqui dentro da mente

Vêm corroendo eolicamente os barrancos da intemperança

E da ignorância que vão se fragmentando a cada momento.

Não debocho de qualquer coisa, não sou um pobre demente,

Pois sou gente, deficiente e da genética tenho uma pobre herança:

Não ouço nem em pouca distância o uivo do vento.

Mas aconselho vocês, meus amigos de poucas sementes,

Deixem florescer aí dentro o vento e o jasmim da lembrança

De que minha imperfeição é pra mim um lamento.

E a risada debochante, vinda de vocês, é ainda mais um tormento.

Escutem o sopro consideravelmente silencioso do vento.

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 31/03/2007
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