Nas esquinas da vida: Maria

Era mais uma Maria

Que de diferente só tinha

O ofício de artista.

Não era bem remunerado,

Não era reconhecido,

Mas era bem-quisto e executado

E também o único cargo

Que como mulher conseguira

No mercado.

“Difíceis os tempos”, dizia Maria,

Nos bares cantar não podia!

E devido a essa falta de sorte

Cantava Maria na esquina.

Esquina essa que resumia

Toda a rotina de sua vida

Na esquina não só cantava

Pois se de cantar levasse a vida

O dinheiro faltava

E se falta o dinheiro, falta a comida

Sobre a mesa de Maria.

Na esquina, quando não cantava,

Outros números a artista fazia:

Se cantando sua voz vendia ao povo,

Sem cantar, à noite, vendia o corpo.

Era “Maria, Maria”

de dia para nós

Era “Maria da Vida”

à noite e sem voz.

Por força do destino ou ironia,

Amanheceu, certo dia,

A esquina sem qualquer cantoria

Na rua, o corpo da artista,

Do qual tanta gente servira,

No cenário do crime jazia

Calado e sem vida.

Morrera Maria

E ninguém ouvira.