Transe, transada
O sangue pisado da tortura consumada
pinga em vão nessa terra de infortúnios.
Terra em transe; terra em transa; terra transacionada
pelas sujas mãos que decapitaram os poetas
que ousaram cantar a Liberdade ainda que tardia
e que venderam as almas para os pequenos sonhos burgueses
que se banham nos penduricalhos brilhantes
que seduzem as fiéis putas devotas que babam
nos cantantes altares das secas descrenças.
E que ecoam ressecadas entre tiros adolescentes
e bocas desdentadas que mais ladram, do que mordem.
Transe da terra de Glaúber e doutros proscritos,
cujo ABC do "Demo" em brancas carreiras foi escrito.
Transe que engole a poesia de agora,
pois eis que alegam que já lhe passa da hora.
Terra transada, laranja chupada e virtude esbanjada
por inocências quebradas em "oito quadradinhos"
que se perdem nos viciados descaminhos
da vida que não pediram.