Os olhares da cidade
Turva a cidade e convulsa
Com sua rotina de prédios e esquinas!
Turva a cidade em suas luzes e fachadas a noite.
Turva pelos gases derivados
Pelos sonhos acabados, pela paixão e o adultério.
Pela competição do mercado,
Pelas crenças, pela filosofia.
Turva de verdades e mentiras.
Feita em ritmos comprimidos de individuo para individuo.
Drogas, sexo, som.
Risos, lágrimas, amor.
As pessoas nos bares, nos restaurantes...
Algumas ainda no trabalho fazendo uma horinha,
Em seus automóveis apressados!
Fumando preocupados...
Discutindo ao telefone.
Amando e sofrendo, comendo e fornicando.
São tantas coisas acontecendo em um só momento!
A vida não para! Sem freios o tempo segue,
Move-se num freme sanguíneo de cada coração.
Tudo segue em vários lugares, em gestos diferentes.
Na cerâmica do jarro com violetas a morrer.
Nas janelas entreabertas, nas mesas de jantar.
Nos ventos nas cortinas das casas...
Nas frutas em bandejas sobre as mesas;
No vazio do prato, na miséria, na falta de conforto.
No cabelo branco dos velhos abandonados nos abrigos!
A vida segue!...
Breve ou lenta!
Nas calçadas, atrás dos óculos, atrás dos olhos!
Alguém me olha e deduz sozinha se perguntando quem sou.
E essas flores como não deixar de falar sobre elas
Que desabrocharão!
Vou caminhando por ruas iluminadas e escuras
Onde não Há lâmpadas nem postes.
Olhando as mesas dos bares...
Copos vazios cheios de silêncios.
Prostitutas fazem programa em busca de prazer e grana
Passam a noite de carro em carro de cama em cama.
Muitos se amando outros se enganando
Muitos sofrendo outros sonhando.
A cidade ainda vai mais além por trás das aparências de que vai tudo bem.
Turva a cidade se comunica com meus olhos.