Crônica Paulistana

Na república tupiniquim
é madrugada, quase manhã.
¿São Paulo terra do trabalho
ou terra de jurupari?
Inferno no gueto
e inferno no asfalto.
O povo no “busu”
vai pra lida no maior atraso,
seja segunda, domingo ou feriado.
É um putal descaso.
¿Por que acontece assim?
 
Enquanto isso o menino d’ouro,
forte e trigueiro
pedala pra seu posto.
A brisa fresca beija o seu rosto.
Pedala sem excesso
na ciclovia da Paulista,
a avenida do terno bonito
e do dinheiro.
Vai sem protesto
e carrega consigo o sucesso
porvindouro.
 
A brisa.
A cidade.
A madrugada.
A estrela Dalva.
Adiante o trabalho.
E o guerreiro
pedala solteiro.
 
Em outro passeio,
na “night” o mauricinho está.
Sem atitude, não consegue flertar.
Conclui: “ebrioso é mais fácil na mocinha chegar”.
Bebe birita, cheira e quer fumar.
Sem nada arrumar vai para rua pilhar.
Paga a conta com o cartão do papai,
orgulho da mamãe,
e da família o herdeiro.
 
Guia o carro do ano,
vai imprudente e sem respeito.
Sai pelas ruas provocando a um “racha”.
Drogado, cego,
invade a “ciclofaixa”.
E o mano bom
que fugia do amasso
da salsicha de aço,
estirado no asfalto
ao anjo urbano pergunta:
¿Onde está o meu braço?
 
 
Força Guerreiro.
Sigamos o seu exemplo:
 

“Brindo a casa
Brindo a vida
Meus amores
Minha família” (1)


“Essa é a luz
Que eu preciso
Luz que ilumina
Cria e nos dá juízo” (1)
 

   Esta poesia é um grito social e uma homenagem ao jovem trabalhador David Santos de Souza, o qual foi atropelado às 05:30 da madrugada do Domingo 10 de Março de 2013, quando trafegava com sua bicicleta na "ciclofaixa" da Avenida Paulista a caminho do trabalho, nesse atropelamento ele perdeu o seu braço direito, o qual ficou preso no para-brisa do carro. O atropelador em um ato anticristão fugiu do local sem prestar socorro e "livrou-se" do braço de David, jogando-o em um córrego da cidade de São Paulo, esse ato negou ao jovem a possibilidade de ter seu braço reimplantado. O motorista estava embriagado e acabara de sair de uma "balada".
  Além do seu grande exemplo em usar a bicicleta como meio de transporte para trabalhar, de superar toda a dor sofrida e encarar a adaptação à nova vida com otimismo, David teve a nobreza de perdoar o seu atropelador, sem entretanto deixar de clamar por justiça.
 Fica aqui também registrada a divinal interferência do "anjo urbano" Tiago, o qual socorreu David naquele momento e fez tudo o que devia ser feito para que ele sobrevivesse.

   Essa poesia é também uma apologia ao uso da bicicleta como meio viável de transporte, pelo seu uso para o esporte e para o lazer. Menos carros e mais bicicletas. Menos imprudência e mais respeito.
  Brindo o povo paulistano que faz de São Paulo "a cidade que não dorme e que não para".
  


Vídeos:
Reportagem do atropelamento
Perdão de David


(1) - da música "Mar de Gente" de "O Rappa".