O REBANHO
Em marcha lenta vai o gado humano
Só diferentes pelas marcas que carregam
Escondem as patas em calçados caros
Escondem o dorso em peças coloridas.
E caminhando vai-se o rebanho
Seguindo a estrada que o dono escolheu
Pensando em tudo sem saber de nada
Uns gado lêem, outros escrevem, esse sou eu.
Dizendo sim mesmo pronunciando não
A negação já era algo previsto
E necessária toda a falsa sensação
De que o gado exerce o seu livre arbítrio.
As propagandas estão nos muros e nos postes
Estão nos outdoor's, nas bancas de revista
Um gado inglês, saindo em férias do estrangeiro
Veio ao meu pasto, e eu o chamo de turista.
Comemos grama, lixo e tudo que nos derem
Nem sei se já provei comida de verdade
Concreto e ferro onde os meus olhos vão
Fumaça! Esse é o cheiro da cidade!
Olho pro céu, nem vejo mais a lua
Não vejo o sol, talvez nem veja as nuvens
A ilusão diante dos meus olhos
E a boiada segue pelas ruas.
No fim do dia, o pastor generoso
Leva de volta o gado e lhe dá alimento
E o rebanho da cidade inteira
Descansa agora no seu curral de cimento...