Conflitos existenciais de um psiquismo desestruturado no mundo pós-moderno
Meus pais morrem na guerra
Eu me criei sozinho
Meus olhos nunca mais brilharam
Em minha mente àquele sonho
De Ser o que desejei e mudar
Chances, discursos, situações
Mas meus olhos nunca mais brilharam
Eu segui sozinho – o destino.
Sempre caminhando, sonhando, imaginando
Que tudo isso fosse um grande absurdo
Sinto que serei o Deus dos mortos
Ainda que meus valores sejam outros
Não posso varrer seus pecados
Édipo não matou seu pai.
Resgata-me do pesadelo da existência
Cria em mim um novo ser, ignorante
O balsamo da paixão é apenas um véu
Que cobre o corpo dos casais felizes
Felicidade é um conceito distante
Embora deva existir dentro de cada um
Jocasta não amou Édipo.
Admiro o jardim da casa dos teus pais
Derrubo meu corpo exausto na grama
Enquanto o sereno toca levemente meu rosto
Acho que agora sou uma criança – em paz.
Finalmente estou bem acordado para ver
Nos olhos do destino existe um Deus solitário
Abstraindo a essência mágica da dor
Abstraindo o olhar sem vida, as mágoas
Abstraindo os corpos cansados, as lágrimas
Abstraindo a própria razão, tão estúpida, às vezes.
O Rei está vivo. Ele olha atentamente as ruínas
Desfaz-se da obrigação de ser rei
Cria um novo reinado, mais justo,
Distribui o pão entre os famintos (sente-se bem),
Deixa de lado as fantasias, o comodismo,
Beija os pés do sujeito leproso e parte
Sem levar nada além de um coração valente.