"Era tanta dor no meio do mundo!"

Do mundo mesmo...

não no meio do mundo poético de ser do poeta

mas do mundo...

Ali ... fendas cortadas por mãos invisíveis

mas fendas, talhes enormes sangrando lágrimas

vertendo chuva abundante e curiosamente

ninguém viu passar a navalha cortante

Mas doía, sei que doía...

e como se querendo consertar o estrago feito

sem ter mãos que alcançasse tal defeito

chorei junto, afinal o que poderia eu fazer

impotente diante daquele nada absurdamente sentido

Sentei ao lado, mãos no rosto, pernas encolhidas

e copiosamente chorei, para ver se aquilo tudo inundava

e das matas, flores, montanhas, rachaduras e crateras abertas

fizesse então o mar, com todos os seus frutos

colorindo sempre claro o que cinza se fizera

Mas não parava, doía tanto que as lágrimas secaram e a chuva também,

a rachadura aberta em fenda anavalhada crepitou

em seu lamento, algo estridente, como uma voz vindo do oco impotente

E tudo então silenciou...

no meio do mundo, tudo estava calado

em branco o cinza se transformara

eu aturdida com a luz que emanava daquilo tudo

cores fundidas numa só cor

vesti-me de terra da fenda e compreendi

nada mais havia a ser feito a não ser entender

que muitas serão as fendas

muitas as impotências

as lágrimas

e assim por diante no meio do mundo

mas ninguém há de ver, mesmo crepitando em uivo, quem

a navalhada cortou o meio do mundo e o fez chorar de dor!!!

- Kátia Golau Cariad -

Kátia Golau Cariad
Enviado por Kátia Golau Cariad em 23/04/2013
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