"Era tanta dor no meio do mundo!"
Do mundo mesmo...
não no meio do mundo poético de ser do poeta
mas do mundo...
Ali ... fendas cortadas por mãos invisíveis
mas fendas, talhes enormes sangrando lágrimas
vertendo chuva abundante e curiosamente
ninguém viu passar a navalha cortante
Mas doía, sei que doía...
e como se querendo consertar o estrago feito
sem ter mãos que alcançasse tal defeito
chorei junto, afinal o que poderia eu fazer
impotente diante daquele nada absurdamente sentido
Sentei ao lado, mãos no rosto, pernas encolhidas
e copiosamente chorei, para ver se aquilo tudo inundava
e das matas, flores, montanhas, rachaduras e crateras abertas
fizesse então o mar, com todos os seus frutos
colorindo sempre claro o que cinza se fizera
Mas não parava, doía tanto que as lágrimas secaram e a chuva também,
a rachadura aberta em fenda anavalhada crepitou
em seu lamento, algo estridente, como uma voz vindo do oco impotente
E tudo então silenciou...
no meio do mundo, tudo estava calado
em branco o cinza se transformara
eu aturdida com a luz que emanava daquilo tudo
cores fundidas numa só cor
vesti-me de terra da fenda e compreendi
nada mais havia a ser feito a não ser entender
que muitas serão as fendas
muitas as impotências
as lágrimas
e assim por diante no meio do mundo
mas ninguém há de ver, mesmo crepitando em uivo, quem
a navalhada cortou o meio do mundo e o fez chorar de dor!!!
- Kátia Golau Cariad -