Dependência
Abro nesta manhã de livros lidos
A alma fechada,
No abandono algemado ao passado...
Os confins da dor e da margem do tempo
Inscritos em mim,
Refém da maldição do poder do pó sem alma,
Sem piedade,
Insensível ao sofrimento da dependência,
Reescrevem-se nesta hora em que me estendes a mão...
Eis-me aqui!
Eu sou aquele que restou!
Eu sou outro que quero!
Na minha história tecida de mal e dor,
Mentira e submissão,
Anota com as tuas mãos de seda
A minha loucura...
E , neste compêndio, inscreve a tua paz!
Liberta-me o grito da garganta,
Deixa-me voltar a ser eu no teu abraço,
Traça-me trilhos nos fracassos,
Faz-me estrada alcantilada!
Faz-te eco da minha vontade!
Passeia os lábios na minha inconstância...
Deixa-me sorrir-te as minhas entrelinhas...
Redesenha-me!
Ensina-me a soletrar vida e luz,
Paz...
Redime-me!
Chegou a hora!
Naquela espiral de água azul,
Naquele céu límpido
Tenho urgência de vida,
Carinho...
Toca-me as mãos e passa-me a tua força...
Afunda-te nos meus olhos e lê-me...
Até às profundezas da minha angústia!
Estou aqui,
De alma nua,
Vem vestir-me de cores de luz!
Vem possuir-me a dor
Vem,
Como vento norte,
Varrer a minha angústia!
Vem, meu porto de abrigo!