o velho e o novo

não é novidade a importância

do transporte sobre trilhos

suave, não poluidor

andando sempre com graça

o transporte, sim, que é de massa

existe aí pelo mundo

como existiu por aqui

e quando vieram os barbudos

que acreditávamos de esquerda

achamos que ressuscitariam

o trem com a sua nobreza

o andar vagaroso na serra

a rapidez na planície

o trem que tem no Canadá

o TGV da Inglaterra

o trem bala lá do Japão

mas qual, tudo isso já era

deixaram a gente na mão

há pouco tempo souberam

(como tantos outros fizeram)

foi receber o vilão

patrão da América do Norte

que veio aqui dizer não

ao que a gente achou que podia

mas nada disso é novo

esse filme já vimos...

nem mesmo é novo o destino

dessa imensa nação:

ser o celeiro do mundo

do ouro, da vegetação

dos craques do futebol

e agora até do etanol

da nossa mulher, da mulata

produto de exportação

outrora levavam o ouro

depois levaram a madeira

e hoje acabam com tudo

que tínhamos na cristaleira

e o nosso político ajuda

com o aumento do próprio salário

parece um Deus nos acuda

nem isso os barbudos pararam

entraram foi na corrente

e assim o que sobra pra gente:

menino acorrentado

no meio de três cachorros?

menino que é arrastado

no cinto da insegurança?

o Carnaval, cocaína

que de ninguém enchem a pança?

o aumento da violência?

isso, sim, novidade

que por se tornar corriqueiro

perdeu o sentido do novo

e assim vai vivendo esse povo

com o velho o novo confundindo

e nós vamos nos iludindo

achando que está tudo bem...

e na pequenina cidade

a mãe não quer nem ver o filho

que só entrou no país

depois de uma operação plástica

pra mim ele era um herói

e hoje como me dói

vê-lo de novo aí

depois de mil maracutaias

brigando pra ter mais poder

talvez nisso possa haver

algo de fato de novo

vai ver eu é que já estou velho

e não entendo mais nada

Passa Quatro, MG, 24/03/2007