Gritando por nós

o grito

é o desatino da palavra,

da voz..

o grito

é a exarcebação do verbo

que se alça ao infinito

num mergulho suicida

E mesmo assim volta...

o grito relembra nossos medos,

nossas infâncias

a sombra que se projeta para além da visão

O lado negro e confuso

dos que desesperadamente falam,

invadem de fonemas o cenário

na busca de socorro ou compreensão

As crianças gritam lá fora,

a carências urram no peito

uma ausência animalizadora

de quem busca incessantemente que os ame

como buscassem um lenitivo inédito

e difícil

as crianças gritam e choram

mais que outrora

Mas nem há mais piedade no mundo

A compreensão matemática dos afetos

se transtornaram numa estranha inequação

num obtuso egoísmo

de trevas,

e a incompreensão,

e solidão se agigantam entre os homens

que produzem guerras, mosntros,

catástrofes,

destruição

quando nem mesmo um grito se ouvirá

haverá então um profundo e infinito silêncio

Todos se mataram como insetos

Os mesquinhos definitivamente não exercitam

o verbo dar

com medo de lhe faltarem

aquilo que mormente

dão...

é que não sabem

que toda sua avareza, e toda sua pobreza

paradoxalmente deve ter tido a origem

em algum

mesquinho fazer...

Não sabem dar e, também não sabem receber

e vivem com migalhas

sentindo-se milhardários

com a própria vileza num microcosmo.

O grito lá fora na manhã quase

azul

torna cianótica minha visão

o grito novamente,

agudo estridente,

o verbo desesperado, a paixão,

a sangria desastada

dos nós que não se fecham jamais...

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 24/03/2007
Código do texto: T424068
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