Gritando por nós
o grito
é o desatino da palavra,
da voz..
o grito
é a exarcebação do verbo
que se alça ao infinito
num mergulho suicida
E mesmo assim volta...
o grito relembra nossos medos,
nossas infâncias
a sombra que se projeta para além da visão
O lado negro e confuso
dos que desesperadamente falam,
invadem de fonemas o cenário
na busca de socorro ou compreensão
As crianças gritam lá fora,
a carências urram no peito
uma ausência animalizadora
de quem busca incessantemente que os ame
como buscassem um lenitivo inédito
e difícil
as crianças gritam e choram
mais que outrora
Mas nem há mais piedade no mundo
A compreensão matemática dos afetos
se transtornaram numa estranha inequação
num obtuso egoísmo
de trevas,
e a incompreensão,
e solidão se agigantam entre os homens
que produzem guerras, mosntros,
catástrofes,
destruição
quando nem mesmo um grito se ouvirá
haverá então um profundo e infinito silêncio
Todos se mataram como insetos
Os mesquinhos definitivamente não exercitam
o verbo dar
com medo de lhe faltarem
aquilo que mormente
dão...
é que não sabem
que toda sua avareza, e toda sua pobreza
paradoxalmente deve ter tido a origem
em algum
mesquinho fazer...
Não sabem dar e, também não sabem receber
e vivem com migalhas
sentindo-se milhardários
com a própria vileza num microcosmo.
O grito lá fora na manhã quase
azul
torna cianótica minha visão
o grito novamente,
agudo estridente,
o verbo desesperado, a paixão,
a sangria desastada
dos nós que não se fecham jamais...