Meninos de rua
O dia era frio, muito frio, chuvoso, nublado e escuro, a sensação era de que o vento cortava, sangrando a pele. Poucas pessoas arriscavam sair às ruas. O mês de junho, no extremo sul do país, maltrata alguns cidadãos.
Envolvida em mantas de tricô, os famosos cachecóis, luvas e botas de couro legítimo, a Madame pára seu carro importado no sinal vermelho. Surge a sua frente um menino adolescente, quase moço, muito magro, corpo quase nu, coberto com tinta prateada, mexendo seus malabares. Mal podia acreditar que alguém pudesse suportar aquele frio em pêlo. Misérias do mundo! A Madame tira da bolsa, etiquetada com marca internacional, algumas moedas - que sobraram, talvez, do cabeleireiro, da massagem, da manicure?- para pagar o show.
Na quadra seguinte, outro sinal vermelho, fechado, gritando Pare, Olhe, Atenção! Outro menino, agora criança, vendendo balas, no carro se encosta. Nas costas o peso de ser diferente, carente, tão pequeninho, lutando sozinho, vendendo bala, cheirando cola, sem escola, pedindo esmola. Mas quem dá bola para um vendedorzinho de bala que só precisa de colo, de carinho, de uma boa escola, de um prato de feijão e de um pouquinho de atenção?
Enquanto a Madame seguia seu caminho sem olhar para trás, o menino seguia sua espera, espera, espera...
Jussára C Godinho - Ju Virginiana
O dia era frio, muito frio, chuvoso, nublado e escuro, a sensação era de que o vento cortava, sangrando a pele. Poucas pessoas arriscavam sair às ruas. O mês de junho, no extremo sul do país, maltrata alguns cidadãos.
Envolvida em mantas de tricô, os famosos cachecóis, luvas e botas de couro legítimo, a Madame pára seu carro importado no sinal vermelho. Surge a sua frente um menino adolescente, quase moço, muito magro, corpo quase nu, coberto com tinta prateada, mexendo seus malabares. Mal podia acreditar que alguém pudesse suportar aquele frio em pêlo. Misérias do mundo! A Madame tira da bolsa, etiquetada com marca internacional, algumas moedas - que sobraram, talvez, do cabeleireiro, da massagem, da manicure?- para pagar o show.
Na quadra seguinte, outro sinal vermelho, fechado, gritando Pare, Olhe, Atenção! Outro menino, agora criança, vendendo balas, no carro se encosta. Nas costas o peso de ser diferente, carente, tão pequeninho, lutando sozinho, vendendo bala, cheirando cola, sem escola, pedindo esmola. Mas quem dá bola para um vendedorzinho de bala que só precisa de colo, de carinho, de uma boa escola, de um prato de feijão e de um pouquinho de atenção?
Enquanto a Madame seguia seu caminho sem olhar para trás, o menino seguia sua espera, espera, espera...
Jussára C Godinho - Ju Virginiana