Equação Indigente

Eu não sei que é feito dessa gente

Que anda pálida, esfarrapada, suja

-– “Indecente!”

Perambulando nas ruas da gente

Na cidade da gente

Sondando as casas da gente!

Será que, como eu, vivem,

Morrem, pensam? Será que sentem?

Uma indagação: quem são?

Pra polícia: nem gente

Pra justiça: que gente?

E pra gente?

Mais um na calçada

Morreu? Menos um.

Mais um nas ruas, nas drogas, no vício

Mais um que me rouba, que rouba o vizinho

Mais um a espreitar o jantar na janela

Mais um no sinal a pedir moeda

Mais um a enfiar lixo na goela

Mais um em cima do papelão, na escada da lojas

Mais um, menos um: que importa?

Mais empecilho pro mercado imobiliário

Menos imposto pro empresário “solidário”

Pro Estado é “mais um, menos, tanto faz”

Menos um operário, menos um operante,

Menos gente, menos humano,

Mais um menos um: nada mais.