REGRESSO
(para Carlos Nejar)
A morte vinha em comboio nos celeiros de trigo.
Em comboio vinha nas mãos de meu povo.
A morte vinha em comboio no vinho,
vinha, que adoça a boca,
e amaina o tempo do regresso.
A morte vinha em comboio
solidão de aboio, sangrando solidão.
A morte vinha nos vagões da despedida.
A morte vinha em comboio sobre mim,
sobre os trilhos e na estrada sorria.
A morte veio em comboio, em comboio sorriu:
triste sorriso o da manhã
que nasce no rosto do espelho.
A morte veio na mão do mendigo, na côdea de pão.
A morte veio em comboio, e cobriu os que lutaram.
A morte veio em comboio nos vagões da despedida
do amor entre os homens, na face da solidão da vida.
– Do livro O SÓTÃO DO MISTÉRIO. Porto Alegre: Sul-Americana, 1992, p. 111:2.
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