VIOLADA

Existem dívidas que são eternas.

Tem muito otário bancando o sabido:

quer abraçar o mundo com as pernas,

‘caba entregando o ouro pr’o bandido.

Nem sempre leva, aquele que merece:

a vida é briga de foice no escuro.

Gente que diz que faz e acontece;

na hora H não quer descer do muro.

Mas a viola toca ponteando

e a gente vai levando... vai levando...

Eu quero é ver botar a mão no fogo

por quem não quer açúcar na chupeta:

trocam-se as peças, e é o mesmo jogo;

trocam-se as bocas, e é a mesma teta.

E a gente vai dançando o minueto,

admitindo até que ninguém gosta.

Ficou pior a emenda que o soneto:

não ‘tava bom; agora, ‘tá uma b....

E a viola toca, e não se cansa.

E a gente dança. E a gente dança.